Um dos jovens suspeitos de participar do estupro coletivo de uma
menina de 12 anos, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, se apresentou à
28ª Delegacia de Polícia nesta terça-feira (9).
O menor, que foi levado pela própria mãe, tem "total
participação no ato", segundo a delegada responsável pelo caso Juliana
Emerique, titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav), segundo
o Globo.
"Essa mãe foi muito
responsável em trazer o filho para que ele formalizasse tudo o que quiser
declarar sobre o caso", disse
delegada ao jornal Extra.
Em depoimento na última
segunda-feira (8), a vítima revelou ter ficado cerca de uma hora na mão dos
abusadores e que o crime aconteceu há três semanas. Ela foi
agredida e estuprada por quatro jovens; o quinto gravou o ato. O vídeo foi
divulgado nas redes sociais.
Pelo menos cinco rapazes
aparecem nus nas imagens. A vítima tenta se esconder atrás de uma almofada e
grita pedindo para que o estupro pare, mas os abusadores continuam com as
agressões. Em um momento da gravação, ela grita e um dos jovens diz: "Cala a boca, se alguém ouvir sua
voz vai saber que é tu."
"Ela não esperava
essa dimensão. Ela está abalada como uma adolescente de 12 anos, mas ela está
aqui firme conosco. É tudo um grande susto para a vida de uma
adolescente", disse
a delegada após o depoimento da menina.
Alegando segurança à
vítima e ao procedimento das investigações, a polícia não revelou detalhes do
depoimento nem da apuração do caso, mas afirmou que os envolvidos no crime são
da mesma comunidade que a família da menina vive e que podem ser três menores e
um maior de idade.
A denúncia foi feita na
última sexta-feira (5) por uma tia da menina. Ela encontrou o vídeo do crime em
uma página do Facebook e foi até a polícia.
Ainda nesta terça (9)
são esperados depoimentos do pai da vítima. Ontem quatro parentes da menina,
entre elas a mãe, a avó e a tia da garota responsável pela denúncia, foram
escutados pela polícia.
Segundo a Secretaria do
Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos, a família
aceitou entrar no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de
Morte (PPCAM). A menina será levada para um local não sigiloso, onde ela e
parentes terão assistência jurídica, social e psicológica.
"Não podemos
banalizar a violência. A vítima é uma criança que precisa ser protegida e
orientada. Foi machismo, foi abuso sexual e psicológico o que essa jovem
sofreu.", disse o secretário de Direitos Humanos e Políticas para
Mulheres, Átila A. Nunes, segundo o
Globo.
'Um
crime abominável'
A delegada Juliana Emerique afirmou
ao G1 que há uma
"gama de crimes" neste caso, que vão além do estupro de vulnerável.
Há também a divulgação das imagens e a armazenagem dessas cenas. Para a
delegada, o fato de envolver uma menina de 12 anos configura estupro mesmo que
a situação ocorresse com o consentimento da vítima.
As penas de
estupro de vulneráveis vão de 8 a 15 anos de prisão. Os criminosos, que vão
responder por este tipo de crime, deverão ser incluídos no artigo
240 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que pune quem filma e
reproduz cena de sexo envolvendo crianças ou adolescentes. Mesmo em
caso de consentimento, a lei considera estupro de vulnerável e presume
violência o ato sexual com menores de 14 anos.
"É um
crime abominável, muito grave, que demanda uma ação imediata. Equipes da Dcav
estão na rua para tentar identificar principalmente o local e os personagens
envolvidos. Não só aqueles que praticaram o ato, mas todos aqueles que estejam
difundindo as imagens pela internet", disse a delegada, segundo
o Estadão.
Quem divulgou
ou compartilhou as imagens do crime pode responder por divulgação de material
pornográfico envolvendo menores. Segundo o ECA, a pena vai de 3 a 6 anos de
reclusão. Mas não é apenas divulgar. O ato de portar o vídeo no telefone celular
ou em qualquer outro dispositivo também é crime com pena de 1 a 4 anos de
reclusão.
Um ano depois, a mesma
violência
Em maio de 2016, uma jovem de 16 anos foi estuprada
coletivamente na Comunidade na Barão, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Um vídeo
que mostrava a vítima desacordada foi gravado pelos criminosos e divulgado nas
redes sociais. O
crime e a forma como ele foi divulgado pelos próprios estupradores gerou
revolta e mais de 800 denúncias foram feitas ao Ministério Público do Rio.
Inicialmente,
havia suspeita de que a vítima teria sido abusada sexualmente por mais de 30
homens. Com a investigação, três pessoas acabaram formalmente
acusadas pelo crime e foram condenadas a 15 anos de prisão em regime fechado.
Dois dos acusados seguem presos e o terceiro envolvido está foragido da
Justiça. A adolescente foi incluída no programa de proteção do governo.
A titular da
Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima do Rio de Janeiro, Cristiana
Bento, que assumiu a investigação do caso, à época, disse
que a vítima foi violentada duas vezes: pelo estupro e pela sociedade.
"Ela é
vítima dos autores daquele ato de violência e da sociedade, que subtraiu dela
os valores morais, sociais", disse
a delegada em
audiência sobre cultura do estupro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro
(Alerj).
Mulheres são
violentadas a cada onze minutos no Brasil. Esta foi a conclusão do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública divulgado em 2015. Até o ano de 2009, o estupro
era considerado crime contra a honra. E ainda hoje o estupro é um dos crimes
menos notificados do Brasil.
Cerca de 50
mil casos de estupro são registrados anualmente no Brasil e estima-se que isso
representa apenas
10% da quantidade dos casos. A
pessoa que é violentada, na maioria das vezes, deixa de denunciar com medo de
retaliações, com vergonha de se expor, e até mesmo com receio de serem culpadas
ou expostas pela violência sofrida.
A violência contra meninas
Andreia M., de 23 anos,
foi abusada pelo pai de uma amiga aos oito anos de idade, enquanto estudava, e
escondeu o que aconteceu por vergonha e culpa. Patrícia
D., de 28 anos, foi estuprada aos 16 anos por um desconhecido e,
mais tarde descobriu que estava grávida. Maria
C, de 32 anos, sofreu uma tentativa de estupro pelo próprio avô, aos
12 anos. Estas são só algumas das histórias que ilustram o tipo de violência
sexual que milhares de meninas sofrem pelo Brasil e, em sua maioria, em
silêncio. Estima-se que apenas 10% dos casos de estupro sejam notificados no
País.
"A
violência contra mulher começa na infância. Isso não tem como negar", disse
Viviana Santiago, especialista em gênero da ONG Plan Internacional,
em entrevista ao HuffPost Brasil. "A sociedade é tão machista, que culpa
uma menina como mulher por um abuso. Como se o consentimento fosse algo
possível para uma criança seis e dez anos de idade, por exemplo", completa.
Apenas por
ser do sexo feminino, milhares de meninas estão sujeitas à violência e o
agressor, na maioria das vezes, está dentro de casa. Elas são 94% das vítimas
de estupro no Brasil, segundo
dados do Ipea.
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