Josegrei disse que não pode afirmar que houve erro
da Polícia Federal, mesmo porque não acompanhou a íntegra da entrevista
coletiva
PORTO ALEGRE - No dia 17 de março, o juiz federal Marcos Josegrei da
Silva, de 45 anos, acordou mais cedo. Gaúcho de Porto Alegre, chegou às 9 horas
ao trabalho, no aprazível bairro do Ahu, em Curitiba, na sede da Justiça
Federal. Era sexta-feira e a Operação Carne Fraca estava nas ruas. Desde às 6h,
um exército de 1.100 policiais cumpria 186 mandados de busca e apreensão e 38
de prisão, em sete Estados do Brasil.
A ordem era de Josegrei - um carnívoro devoto - e determinava que fossem
presos fiscais do Ministério da Agricultura, empresários e executivos do setor
de carnes e processados. Todos suspeitos de manterem um esquema de corrupção e
fraudes em fiscalizações dos alimentos produzidos no Paraná, Goiás e Minas
Gerais.
Menos conhecido que seu vizinho de andar, o juiz federal Sérgio Moro, da
13.ª Vara Federal, Josegrei ainda não vislumbrava naquela manhã os reflexos
negativos que a operação provocaria.
Não é a primeira operação de repercussão nacional deflagrada por
Josegrei. Titular da 14.ª Vara Federal de Curitiba desde 2012, foi ele quem
mandou prender um grupo de supostos terroristas, em 2016, alvos da Operação
Hashtag, e, também, supostos desviadores de R$ 7 milhões de recursos de bolsas
de estudo, na Universidade Federal do Paraná, e este ano, a Operação Research.
Josegrei afirmou, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, que,
para os indícios que foram coletados nesses dois anos de investigação, entende
que as medidas decretadas eram as adequadas para permitir o avanço das
apurações. Ele afirmou que não tem nenhum reparo a fazer. Josegrei disse que
não pode afirmar que houve erro da Polícia Federal, mesmo porque não acompanhou
a íntegra da entrevista coletiva.
O juiz federal disse que percebeu que a repercussão, em um primeiro
momento, teve como ponto central a questão da qualidade dos alimentos de origem
animal e as possíveis implicações da falta de observância dos padrões
sanitários pelos frigoríficos. De acordo com Josegrei, o fato é que o tema da
corrupção está cada vez mais presente no debate nacional.
Segundo o juiz, quando se tem a possibilidade de repercutir diretamente no
alimento e, por consequência, na saúde das pessoas, o apelo é maior ainda.
"Deduzo que a intenção da PF era a de informar ao público sobre aquele
trabalho policial. Mas o tema era evidentemente sensível e acabou provocando
toda essa repercussão intensa", declarou.
"A operação policial foi o tempo todo acompanhada pelo Ministério
Público Federal e pelo juízo. Era necessário coletar indícios suficientes para
justificar a concessão pela Justiça de medidas mais contundentes, como aquelas
cumpridas no último dia 17. Isso leva tempo. Não há, até agora, indícios de
que, no período de investigação, a saúde dos consumidores tenha sido posta em
risco em virtude do tempo decorrido do seu início desde a deflagração",
garantiu.
ESTADÃO CONTEÚDO
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