O texto foi aprovado em dois turnos de votação
pela ampla maioria dos senadores, que se revezaram para defender o esporte.
O Plenário do Senado aprovou nesta terça-feira (14)
uma Proposta de Emenda à Constituição que permite a realização das
vaquejadas, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) contra a prática. O
texto foi aprovado em dois turnos de votação pela ampla maioria dos senadores,
que se revezaram para defender o esporte. Agora, a PEC segue para a Câmara dos
Deputados.
A PEC 50/2016 muda o artigo 225 da Constituição,
que trata do meioambiente, para descaracterizar a prática de crueldade
associada ao esporte. O texto foi apresentado em outubro de 2016, logo após a
decisão do STF. No julgamento de ação do Ministério Público contra a lei que
regulamentava as vaquejadas no Ceará, o relator, ministro Marco Aurélio,
considerou haver “crueldade intrínseca” contra os animais.
De acordo com a PEC, não serão consideradas cruéis
as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações
culturais previstas na Constituição e registradas como integrantes do patrimônio
cultural brasileiro. A condição para isso é que sejam regulamentadas em
lei específica que garanta o bem-estar dos animais.
Defesa
A matéria foi aprovada com várias manifestações
favoráveis de senadores, especialmente os do Nordeste. Quase todos os líderes
de bancada encaminharam a votação favorável à matéria. As exceções foram o PT,
que liberou a bancada, e a Rede Sustentabilidade, que orientou o voto
contrário.
Apesar de reafirmar seu respeito pelo STF, o autor do
texto, senador Otto Alencar (PSD-BA), citou os prejuízos causados pela decisão.
Ele explicou que a cadeia da vaquejada engloba produtores de ração e feno,
vaqueiros, tratadores, produtores de couro, artesãos que fazem selas e arreios.
Além deles, também estão envolvidos no processo os produtores de festas, os
ambulantes que vendem alimentos nesse tipo de evento, os donos de haras e as
empresas de leilões.
– A vaquejada expandiu-se por todo o Brasil e
hoje tem uma cadeia produtiva que deve empregar, entre empregos diretos e
indiretos, algo em torno de um milhão de trabalhadores. Nesse período, desde
que houve a decisão do Supremo, muitas Vaquejadas foram canceladas de forma
abrupta – lamentou.
Raimundo Lira (PMDB-PB) fez um apelo aos senadores
para que votassem a favor da PEC. O senador disse que o Nordeste enfrenta o
sexto ano consecutivo de seca e que a região precisa do apoio do
resto do país.
A pedido de Otto Alencar, o presidente do Senado,
Eunício Oliveira, foi substituído na presidência da sessão para que pudesse
registrar seu voto favorável à PEC, que disse considerar importante para a
cultura nordestina.
Sofrimento
A líder do PT, senadora senadora Gleisi Hoffman
criticou o texto. Para ela, o que a PEC faz é dizer que esportes considerados
Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade não causam maus-tratos, ainda que,
na prática, causem. A senadora lembrou que mesmo no abate de animais para a
alimentação já se procura minimizar o sofrimento dos animais. Para ela, não se
justifica maltratar um animal apenas para a diversão humana.
Gleisi levou fotos ao Plenário e citou os danos
causados aos bois que são usados no esporte, como fraturas nas patas,
arrancamento de cauda, ruptura de ligamentos e de vasos sanguíneos, e
comprometimento da coluna vertebral. Ela também contestou os argumentos de que,
se esportes como o MMA machucam humanos, seria normal a vaquejada machucar
animais.
– Os seres humanos lutam o MMA, telecatch, boxe
porque têm livre arbítrio, porque querem, porque entram na arena para fazê-lo.
Não são colocados para fazê-lo sob força, para dar diversão aos seres humanos –
contestou a senadora.
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB),
Armando Monteiro (PTB-PE) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) citaram
aprimoramentos no esporte que procuram garantir a integridade física dos
animais. Para eles, as vaquejadas regulamentadas não trazem mais os danos que
as antigas competições do gênero causavam aos bois.
Eles afirmaram que há evoluções e defenderam a
regulamentação do esporte para que não haja exageros e nenhum tipo de maltrato
aos animais.
Cultura
A questão cultural foi lembrada por Roberto Muniz
(PP-BA). O senador explicou que a vaquejada aglutina diversas outras
manifestações culturais, como o repente, o cordel e a música nordestina. Na
opinião do senador, não é possível deixar morrer algo que surge da população
mais pobre e que faz parte da raiz do orgulho nordestino.
– É por isso que nós temos aqui que pedir aos
Senadores que não fiquem de costas, não façam o que muitos fazem: esquecer a
importância da nossa raiz, a raiz da cultura, que vem do interior e dos
grotões. É claro que os empregos são importantes, é claro que a economia é
fundamental, mas tão fundamental quanto o emprego e a economia é deixar pujante
a cultura popular – afirmou.
Apenas a Rede Sustentabilidade fechou posição
contrária ao texto. O líder do partido no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP),
leu uma nota em que a Rede critica o esporte. Na nota, o partido afirma que não
pode haver cultura no sentido positivo e justo quando se aceita a violência
contra os animais. Este seria, de acordo com o texto do partido, o primeiro
passo para o desrespeito à vida humana.
– Minha origem é nordestina, tenho parentes
nordestinos, e respeito, inclusive, parentes que assim pensam e quem pensa
diferentemente, mas há de se distinguir aqui o que é cultura do que é, de fato,
a prática reiterada de maus-tratos aos animais – argumentou o senador.
Fonte: Agência
Senado
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