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Foto: Divulgação |
A Associação Comunitária dos Moradores
de Pequiá (ACMP), citada na matéria “Açailândia: Processo de Realocação das
Famílias do Pequiá de Baixo continua se arrastando”, publicada no Jornal
Pequeno, edição de 18 de janeiro de 2018, página 6, caderno “Estado”, vem
esclarecer e contestar a forma como os fatos foram apresentados, atribuindo
culpa e responsabilidade à comunidade pelas demandas que as empresas de ferro
gusa têm que responder junto aos órgãos ambientais e à sociedade.
A matéria, assinada pela Coordenadoria
de Comunicação e Eventos da Federação das Indústrias do Estado do Maranhão
(FIEMA) questiona o processo, ainda não concluído de reassentamento, além de
deslegitimar o direito de manifestação e resistência da comunidade. São 312
famílias, não 314 como cita a matéria. Os primeiros moradores de Piquiá de
Baixo ali chegaram iniciando uma formação comunitária já em 1958, sendo que só
no período de 1984 e 1988 é que as empresas siderúrgicas e a Estrada de Ferro
Carajás iniciaram sua implantação e operação nesse espaço. É desrespeitosa e
inverídica a informação de que a comunidade ocupou de forma irregular o espaço
industrial de Piquiá, quando 30 anos antes das empresas chegarem já havia uma
comunidade em formação nesse território.
Os investimentos a que a matéria se
refere, na fala do Presidente do Sindicato das Indústrias de Ferro Gusa do
Estado do Maranhão (SIFEMA), Claudio Azevedo, só ocorreram após manifestações e
cobranças por parte dos moradores, do Ministério Público, da Defensoria Pública
e de órgãos internacionais de proteção aos direitos humanos nos âmbitos da ONU
e da OEA. A poluição e os danos ambientais que a matéria qualifica levianamente
como “supostos” vêm sendo atestados em diversos estudos técnicos realizados por
profissionais independentes, pelo menos desde 2007.
Há mais de 10 anos a comunidade de
Piquiá de Baixo vem travando uma luta para ser reassentada em local longe da
poluição. O processo poderia ter sido mais ágil se não fosse a resistência das
empresas em reconhecer sua responsabilidade e em efetivar sua participação na
composição dos recursos para o reassentamento, que tem sua base de
monitoramento e coordenação no Inquérito Civil Público n. 001/2011 que tramita
na 2.ª Promotoria de Justiça, em Açailândia. A falta de alternativas obrigou os
moradores a pleitearem, por meio de sua associação, recursos públicos do
Programa Minha Casa Minha Vida.
Entre 2007 e 2012, a luta da comunidade
foi para formar uma mesa de negociação onde estivessem presentes as siderúrgicas,
a Vale S.A., o Município e o Estado. Alguns acordos foram firmados. Só em 2013
a Associação teve condições técnicas e financeiras de apresentar o projeto para
aprovação na prefeitura local. Em 2014 o projeto básico foi apresentado e
aprovado pela Caixa Econômica Federal e em 2015 foi selecionado pelo Ministério
das Cidades, o que garantiu cerca de 60% dos recursos (públicos) necessários à
construção do novo bairro, que já tem nome registrado em cartório: Piquiá da
Conquista. O terreno para o reassentamento foi obtido após uma longa batalha em
ação judicial de desapropriação, concluída em 2015. O novo espaço terá que
receber toda a infraestrutura a que as famílias têm direito e serão necessários
R$ 29 milhões, sendo que desse montante apenas R$ 2 milhões e 130 mil (7,5%)
foram aportados pelas empresas siderúrgicas, através do Sindicato das
Indústrias de Ferro Gusa do Estado do Maranhão (SIFEMA). Há ainda a promessa de
aporte da Vale S.A. e Fundação Vale no valor total de R$ 6 milhões e 240 mil
(22%).
Cabe recordar que a empresa Gusa
Nordeste S.A., citada na matéria, foi condenada em primeira e segunda
instâncias em 21 ações judiciais iniciadas em 2005 e tem abusado de recursos
processuais para procrastinar o pagamento das indenizações impostas pelo Poder
Judiciário.
Além disso, como consta em matéria do
Jornal O Estado de São Paulo, de 17 de agosto de 2017, assinada por Luiz
Vassallo e Julia Affonso, cujo título é “Promotoria acusa ‘Bento Camarão’ e
mais 9 políticos de Açailândia por propina de R$ 5 mil”, a mesma empresa foi
apontada como protagonista em escândalo de corrupção para a obtenção de
incentivos fiscais: “O Ministério Público do Maranhão propôs Ação Civil Pública
contra 12 investigados, entre eles 10 vereadores da Comarca de Açailândia, a 600
quilômetros da capital São Luís, que teriam recebido propina de R$ 5 mil cada,
em 2013, para a Câmara Municipal aprovar um projeto de lei de concessão de
incentivos fiscais à empresa Gusa Nordeste S/A.”
Sobre a situação do processo de
reassentamento junto à Caixa Econômica Federal: em 29 de abril de 2016, a
Associação assinou com a Caixa o contrato da 1.ª fase do projeto, que
compreende a elaboração, análise e aprovação do projeto executivo da obra. Essa
demanda só foi concluída em novembro de 2017, quando um grupo de 50 moradores
de Piquiá de Baixo ocupou a frente da Superintendência da Caixa, em São Luís,
exigindo a conclusão da análise, com celeridade. Atualmente, a Associação
aguarda as definições do Ministério das Cidades, que nas próximas semanas deve
publicar portaria de seleção complementar do projeto e garantir a
complementação de recursos solicitada.
Apesar dos insistentes pedidos da ACMP,
não há comprovação de cumprimento pelas empresas das normas ambientais
vigentes, em especial da Portaria 111/2008 da Secretaria Estadual do Meio
Ambiente e o Decreto Estadual 29.669/2013, que impuseram às empresas
siderúrgicas a implantação de tecnologias e equipamentos para controle de
emissões atmosféricas, entre outras medidas de mitigação de impactos. Enquanto
o novo bairro não é construído, a população de todo o Piquiá continua sofrendo
com a forte poluição que afeta muito mais do que as 312 famílias de Piquiá de
Baixo cadastradas no projeto do reassentamento.
Por: Associação Comunitária dos
Moradores de Pequiá
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