Degradação
do meio ambiente, inchaço populacional nas cidades, exploração e perda de
territórios são alguns dos impactos sofridos por comunidades dos estados do
Maranhão e Pará, que estiveram reunidas em Canaã de Carajás (PA), entre os dias
17 e 19 de junho de 2016, no VIII Encontro Regional dos Atingidos e Atingidas
pela mineração MA e PA.
O evento
teve por objetivo articular a luta das comunidades dos dois estados, por meio
da partilha dos impactos e também das estratégias de resistência. Os
participantes foram divididos em grupos de trabalhos e discutiram temas como a
criminalização de lideranças, a relação entre juventude e mineração, entre
outros. Também foi realizada uma mesa de debate englobando todos as temáticas
dos grupos.
Esse foi
o primeiro encontro dos atingidos e atingidas pela mineração do qual Genilson
Guajajara, da Terra Indígena Pindaré (MA), participa. Ele diz que a experiência
lhe permitiu vivenciar um pouco da situação de outras comunidades afetadas. “ A
gente também passa por essa realidade em nossas aldeias e pôde ver que as dificuldades
deles não é diferente das nossas.
No
encontro também estiveram presentes comunidades que ainda serão impactadas. É o
caso de Laranjetuba e África (Anaejetuba – PA), que terão seus territórios
cortados pela duplicação da Estrada de Ferro Carajás. Jaqueline Felipe dos
Santos, da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE –
Programa Amazônia), que acompanha as duas comunidades, relatou que os moradores
ainda estão entendendo seus direitos territoriais e “o encontro deu a oportunidade
de conhecer outras realidades e experiências de pessoas que já passaram pelo
que eles vão passar”.
De acordo
com Alessandra Cardoso, assessora política do Instituto de Estudos
Socioeconômicos (Inesc), a exploração de minério afeta diretamente os territórios.
“Com o processo de crescimento muito agressivo da atividade [500%, nos últimos
10 anos], todo mundo começou a construir uma reflexão entre a relação da
mineração e as nossas lutas e também a violação dos nosso direitos”.
Além dos
debates, os atingidos e as atingidas pela mineração realizaram uma passeata
pelas ruas de Canaã de Carajás, denunciando as violações causadas pelo sistema
mina-ferrovia-porto da Vale/SA e sua duplicação. Por meio de cartazes,
panfletos e relatos chamaram a atenção dos moradores do município para o falso
discurso de desenvolvimento trazido pela empresa.
Alessandra
acredita que o processo de resistência das comunidades deve está para além das
reparações de danos ambientais e sociais, incidindo diretamente no código
mineral do Brasil, que sustenta o avanço dessa atividade. “ Precisamos juntar
as nossas forças para construir uma articulação que der conta de tudo isso: de
um lado a resistência, do outro de bloquear o avanço da mineração”.
Os impactos da mineração sobre as mulheres
No dia 19
de junho ocorreu também o I Encontro das mulheres atingidas pela mineração PA e
MA, no Assentamento Planalto Serra Dourada, em Canaã dos Carajás. O objetivo do
evento era pautar os efeitos e impactos da mineração na vida das mulheres. Por
meio de uma roda de conversa, elas pontuaram algumas situações relacionadas
diretamente a instalação de grandes empreendimentos, como por exemplo o aumento
dos casos de violência e exploração sexual (principalmente de crianças e
adolescentes), em parte decorrente do crescimento da população masculina,
trazida pelas empresas.
Canaã de
Carajás
No
município de Canaã de Carajás, sudeste do Pará, fica localizado o maior
empreendimento mineral do mundo, sob o comando da empresa Vale/SA. Executado
simultaneamente no Pará e Maranhão, o projeto, que inclui abertura de uma nova
mina, usina, duplicação da Estrada de Ferro Carajás e ampliação portuária, visa
aumentar a produção de minério de ferro, do Complexo minerador de Carajás.
Segundo
apontou Raimundo Gomes Cruz, do Centro de Educação, Pesquisa, Assessoria
Sindical e Popular (CEPASP), a Vale iniciou um processo de desestruturação do
distrito agrícola de Canaã, por meio da compra de terras destinadas a reforma
agrária, pleiteadas pela empresa para a exploração mineral ou construção de
ferrovia, o que tem piorado a delicada situação fundiária da região.
Atualmente, a mineradora detém de mais de 50% do território do município.
Assessoria de Comunicação
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