Os gastos de gabinete do vereador
Marco Antônio Ricciardelli, o Marquito (PTB), serão investigados pelo
Ministério Público Estadual (MPE) em inquérito que apura irregularidades na
conduta do parlamentar. Há suspeita de que Marquito repassaria todos os meses
R$ 6,8 mil a um escritório de advocacia de fachada, comandado por seu assessor
pessoal, Edson Roberto Pressi. Em três anos, teriam sido mais de R$ 122 mil.
O parlamentar não se manifestou sobre as investigações. Em conversa informal
com a reportagem, na semana passada, Pressi negou as acusações e
disse não poder ser nomeado oficialmente porque sua "religião não
permite".
O MPE
já investiga o vereador por suposta cobrança de "dízimo" de seus
funcionários, prática na qual parte dos salários é devolvida ao gabinete.
Vídeos e depoimentos em poder da Promotoria revelam que o esquema chegou a
reter mais de 50% dos rendimentos dos funcionários comissionados em 2013. Os
denunciantes afirmam que o modelo se repete ainda hoje.
A devolução, segundo as denúncias, é
feita sempre no dia de pagamento e em dinheiro. Funcionários seriam orientados
por Pressi a sacar na boca do caixa a quantia a ser devolvida, na agência
bancária que fica no subsolo do prédio da Câmara, e colocá-la em um envelope
antes de entregar ao assessor.
As supostas irregularidades seriam
comandadas por Pressi, que exerce a função de chefe de gabinete de Marquito sem
ser nomeado funcionário. Oficialmente, o cargo é da mulher dele, Maria das
Graças Pressi, que raramente é vista no gabinete.
As notas fiscais relativas à
consultoria jurídica mostram que o escritório contratado pelo vereador fica em
um prédio administrado por Pressi, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Há
suspeitas de que o assessor seja o verdadeiro dono do imóvel. À reportagem, por
telefone, funcionários informaram que ele trabalha no local.
O gasto com o escritório de advocacia
é o maior do gabinete de Marquito. Em janeiro deste ano, por exemplo, esse
custo representou 35% do total. Na Câmara Municipal, a verba mensal de gabinete
é de R$ 22 mil, em média, que pode ser usada com contratação de consultorias,
material de escritório, panfletos e combustível, por exemplo.
Para o promotor de Justiça Cassio
Conserino, há indícios de prática dos crimes de peculato (apropriação de bem ou
de dinheiro público para fins particulares) e improbidade administrativa
(desonestidade na condução da função pública com fins de enriquecimento ilícito
e prejuízo aos cofres públicos). Outras testemunhas serão chamadas para depor
ao longo da semana.
Sindicância
Líder do PTB na Câmara Municipal, o
vereador Paulo Frange afirmou na segunda-feira (28) que o partido não vai
agir com corporativismo. "Se aconteceu, vai ser tratado como
irregularidade. É peculato. Não vamos permitir que seja silenciado na Casa.
Temos de ter responsabilidade com esse tipo de apuração", disse.
O partido vai abrir uma sindicância.
Após a conclusão do processo, Marquito pode até ser expulso do PTB, sugere
Frange. O vereador ainda informou que o assunto será debatido hoje com os
demais líderes partidários, em reunião na Câmara, às 14 horas. De acordo com
Frange, a Corregedoria será provocada a investigar o caso também dentro do
Legislativo.
O prefeito Fernando Haddad (PT) também
defendeu que o caso seja investigado. "O Executivo não pode fiscalizar
nesse sentido o Legislativo. Não posso mobilizar a Controladoria (Geral do
Município). É um assunto interno da Câmara", disse o petista.
Marquito, humorista que ficou famoso ao trabalhar no
Programa do Ratinho, é da base aliada de Haddad. Recebeu 22 mil
votos em 2012 e só assumiu uma vaga na Câmara Municipal, como suplente, após a
nomeação de Celso Jatene para a Secretaria Municipal de Esportes, em janeiro de
2013.
UOL
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