O projeto
de audiência de custódia da Corregedoria da Justiça do Maranhão alcança a etapa
de interiorização e chega à Região Sul nesta segunda-feira (26) em solenidade
marcada para as 16h. Depois de São Luís e Itapecuru, a Comarca de Imperatriz
também recebe o projeto que garante a apresentação da pessoa presa em flagrante
a um juiz no prazo de 48h, conforme estabelece o artigo 7º da Convenção
Americana dos Direitos Humanos. O projeto busca assegurar a qualificação da
prisão e verificar aspectos como legalidade e possíveil ato de tortura. A sala
para as audiências foi instalada no Anexo do Fórum, localizado na Rua Frei
Procópio, 51 (antigo Hospital Santa Isabell). Nesta segunda acontecem duas
audiências com pessoas detidas no último fim de semana.
Além da Corregedoria,
atuou na implantação do projeto a Unidade de Monitoramento Carcerário,
coordenada pelo desembargador Froz Sobrinho; a Central de Inquéritos de São
Luís, coordenada pelo juiz Antonio Luiz; e a Diretoria do Fórum de Imperatriz,
sob à coordenação do juiz Delvan Tavares. O projeto tem o apoio das secretarias
de Estado de Segurança (SSP) e de Justiça e Administração Penitenciária
(Sejap), além do Ministério Público e Defensoria Pública. Devem atuar nas
audiências desta segunda o promotor Frederick Bacellar e a defensora Clara
Florentino.
A
audiência de custódia é um projeto genuinamente maranhense que alavancou
iniciativas Brasil afora e que após um ano de sua implantação a iniciativa já
contabiliza resultados muito positivos. O projeto maranhense se destaca não só
pelo pioneirismo, mas pelo somatório de esforços entre os órgãos de Justiça e o
apoio do Executivo. Esse compromisso público tem permitido qualificar o
processo de encarceramento, uma vez que apenas permanecem presas aquelas
pessoas que não podem permanecer no convívio social. Uma sala foi preparada
especialmente para receber as audiências.
No
Maranhão, o projeto já chegou à marca de mil audiências de custódia e vem
garantindo a normalização do sistema prisional do Estado. Com menor quantidade
de presos entrando no Sistema Prisional, evita-se a superlotação e é possível
estabelecer novas rotinas para um gerenciamento mais qualificado das unidades
prisionais.
Esse é o
pensamento compartilhado pela corregedora da Justiça, desembargadora Nelma
Sarney. Ela destaca que a audiência de custódia foi uma medida adotada como
resultado do trabalho para contornar a crise carcerária vivida no Estado nos
anos de 2013 e 2014 e destacou que antes as forças de segurança levavam os
presos para as unidades prisionais sem critérios, o que causava aumento
considerável da população carcerária.
Quebrando
paradigmas – Para o juiz coordenador da Central de Inquéritos de São Luís,
Antonio Luiz de Almeida, a audiência de custódia representa um salto
humanitário para o Sistema de Justiça e demonstra maturidade democrática do
Estado Brasileiro. Sobre a consolidação da medida no Maranhão, o magistrado
disse que as dificuldades enfrentadas inicialmente decorreram do pioneirismo do
Maranhão, que implantou as audiências quando outros estados ainda nem debatiam
sobre o assunto, o que gerou grandes desafios. O juiz aposta na regulamentação
via projeto de lei para consolidar definitivamente o projeto em todo o País.
Resultados
– Transcorrido um ano da implantação da medida, o Maranhão já realizou pelo
menos mil audiências de custódia. Desse total, em 442 prisões em flagrante foi
concedido o benefício do acusado em responder em liberdade, aplicando-se
medidas cautelares, tais como o uso de tornozeleira, o comparecimento mensal em
juízo, não se ausentar da comarca sem autorização judicial e atender ao
chamado da Justiça durante o curso do processo.
Por outro
lado, o entendimento do juiz de manter a prisão do acusado prevaleceu em 482
casos. Situações como essas podem ocorrer em casos de crimes mais graves, tais
como homicídio, ou mesmo quando o acusado não atende aos critérios
estabelecidos pelo Código de Processo Penal para responder à acusação em
liberdade. Completam os números os casos de relaxamento da prisão, liberdade
com pagamento de fiança, prisão domiciliar e internação.
Economia
financeira – Considerando que o custeio com cada preso no Maranhão gira em
torno R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) o projeto está permitindo uma
economia de mais de R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais) por
mês. Esses recursos economizados pelo Governo do Estado, responsável pela
gestão administrativa do sistema prisional, podem ser investidos em outras
áreas, como saúde e educação, ou mesmo no aperfeiçoamento do sistema.
Reconhecimento
– Em janeiro de 2015 representantes da ONG Human Rights Watch (HRW)
estiveram no Maranhão e conheceram o projeto maranhense. Naquela oportunidade,
a ONG classificou a iniciativa como uma solução para que o Brasil diminua a
violência dentro do sistema prisional. Isso porque o projeto contribui para
reduzir o número de presos provisórios, o que a HRWclassifica como
uma das principais causas da superlotação das prisões e do recrutamento de
membros por facções criminosas.
Fernando
Souza Coelho
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